Se tivesse que definir "qualidade" com uma fórmula matemática seria Q = T x (M + I). T de "talento"; M de "motivação" e I de "inovação". Dizia a marca italiana Pirelli numa campanha de 1998 "La potenza é nulla senza controllo". Digo eu "de nada serve o talento sem a motivação". Um talentoso motivado tem tudo para ser um "campeão". Um talentoso, desmotivado não passa de um "jeitoso". Recebi há dias um email da directora de contas mais inteligente com quem trabalhei em Portugal, que me dizia que lia sempre os meus artigos mas que gostaria que falasse menos do estado da nação e que devia escrever mais sobre novas tendências. Confidenciei-lhe que se no futuro o I-pod vai ou não precisar de fios não é coisa que me preocupe e prometi-lhe que o próximo texto seria sobre o que nos motiva. O que nos faz ganhar o milímetro extra como explicava Al Pacino no "Any Given Sunday". Eis uma possível lista:
1. O dinheiro. Vivemos Numa sociedade onde o "guito" é o principal elemento aferidor do sucesso. Por ser filho, neto e bisneto de militares não tenho por hábito discutir regras. Mas jogo segundo elas. Uma agência que me paga 5 não me pode exigir que me esforce tanto como a que me paga 15. É o "guito" que me dá as t-shirts Abercrombie e as garrafas de Taittinger. Aplica-se, portanto, o clássico "In Money i tru$t".
As pessoas falham, as ideias mudam, os números¿ não.
2. Os iluminados do costume. Os que nos querem ver falhar. As hienas que nos esperam ver chorar quando perdermos. Em cada apresentação, em cada briefing, lembro-me deles. Quem são? Pouco importa. Sei que são muitos, aburguesados, preconceituosos, hipócritas, invejosos, mal formados e mal vestidos. Por muito que não me possam ver à frente. Nunca me vão odiar tanto a mim como eu a eles. E isso dá-me uma sensação de paz, conforto e ao mesmo tempo uma vontade de auto-superação.
3. A pressão. O Diogo Vieira de Mello dizia recentemente numa entrevista neste jornal que "em Portugal falta o medo de perder o emprego para haver mais qualidade no trabalho final". Há uns tempos o meu chefe na TBWA chamou-me e disse - "Quando vieste aqui a Madrid, vendeste-te como o planner sénior maior da tua rua. Comprei-te como tal. Pago-te como tal e hoje mostras-me uma apresentação e uma estratégia de um gajo perfeitamente mediano. Nesta empresa há o grupo dos imprescindíveis e o dos prescindíveis. A avaliar por este documento estás claramente no segundo." Duas imagens muito motivadoras não me saíam da cabeça: o golo do Bayern na final da Champions de 87 contra o Porto e que nos obrigou dar a volta ao texto para podermos erguer a taça... e vários caixotes da FedEx (cheios da garrafas Taittinger e t-shirts da Abercrombie) com etiquetas a dizer "Destination - Portugal". A única coisa que me ocorreu dizer-lhe foi "Tudo farei para nos 2 dias que restam para a reunião, pôr tudo como deve ser e assim recuperar a tua confiança". Resposta simples: "Se melhorares a tua estratégia, a venderes internamente, depois ao cliente e se no final ele te der os parabéns, tens a minha confiança reconquistada."
4. Dar retorno (ainda que emocional) a quem investiu em nós. Se estivesse cotado em bolsa, e é uma pena não estar, a minha avó e a minha mãe deteriam com certeza 90% das acções. O dinheiro que gastaram para que pudesse estudar nos melhores colégios e nas melhores universidades daria com certeza para comprar bonitos Cartiers em "pink gold & diamonds", litros de Chanel Nº 5 ou de chá no Haessler em Roma. Espero que não se tenham arrependido da opção. "E quanto às caixas da FedEx?", perguntarão os mais preocupados. Descansem que não são para já. As t-shirts da A&F continuam bem arrumadas no armário e as garrafas de Taittinger bem geladas no Smeg à espera de uma boa festa de Primavera com boas espanholas na minha terraza.
Miguel Bacelar, planner senior TBWA Madrid